2 de junho de 2008

Tecnologia Aplicada às Artes

A Arte é a expressão de nossos sentimentos, manifesta de diversas formas. O homem tradicionalmente utilizou de instrumentos existentes na natureza, ou confeccionados a partir desta como sendo seus utensílios, a extensão de suas mãos, com os quais transcende a imaginação e transporta para o físico algo novo.

Por outro lado é conhecida a revolução que a tecnologia tem trazido à vida. Em poucos anos temos assistido uma transformação, a ponto das crianças atuais sequer conhecerem um videocassete, por exemplo.

No mundo das artes temos os “puristas”, aqueles que não aceitam qualquer modificação na forma como têm atuado. Outros, entretanto, aceitam as modificações tecnológicas com imensa facilidade.

O fato é que estas transformações que ocorrem no método, sempre estiveram em andamento, por mais que os “puristas” não o vejam. O incremento da tecnologia dos pincéis, por exemplo, tem proporcionado ao artista dispor de novos modelos de pincéis, que tornam o trabalho muito mais simples. Aquelas famosas “batidas“ realizado com um pincel 456 no.14 para produzir as folhas e flores de um flamboyant, por exemplo, pode ser feito facilmente e em muito menos tempo e com muito mais realidade com um pincel leque, existente hoje.

Para fundamentar este ponto quero reproduzir aqui um artigo extraído do blog do Prof. Silvio Meira do C.E.S.A.R. (Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife) e que foi publicado em 2000:

“MUDANDO O MUNDO. COMO?

Tecnologia é cultura, é uma das três culturas. C. P. Snow falava de duas, apenas: ciência e humanidades. Mas prefiro um espaço tridimensional onde a ciência é o eixo da verdade (da descoberta, do entendimento do mundo em que vivemos); a arte é o domínio da estética, da procura da beleza e a tecnologia, ao invés de ser uma (não tão) simples conseqüência das descobertas científicas e sua aplicação no mundo real é, de fato, o domínio da possibilidade. Parte significativa do que a tecnologia faz vem da experiência, às vezes não muito bem explicada, da montagem de “legos” de conhecimento, às vezes apenas prático.

Pegue o exemplo da aspirina: desde Hipócrates (ao redor de 2000 AC!) que as folhas e casca do salgueiro eram prescritas como medicamento para aliviar dor e febre. Em 1900, quase quatro mil anos depois, como conseqüência do trabalho de Felix Hoffman, que sintetizou uma forma estável do ácido acetil salicílico em pó, a Bayer começou a vender aspirina em tabletes. Até aí, sabia-se mais sobre o salgueiro do que Hipócrates, mas não porque AAS baixava febre e diminuía dor de cabeça. A ciência só carimbou a verdade com o Prêmio Nobel de 1982, dando a láurea a Sir John Vane, por ter descoberto que o mecanismo de ação da aspirina é inibir a produção de prostaglandina. Problemas, mercado, tecnologia e risco são o caldo da inovação: é por aí que o mundo muda.

No pequeno mundo das tecnologias da informação, que ultimamente afeta e habilita todos os outros, as coisas acontecem da mesma forma. Não deveria ser surpresa para ninguém que quase a totalidade dos programas de computador têm defeitos (ou “bugs”), desde os que usamos nos nossos PCs até os que a NASA faz para suas sondas espaciais. Quase nenhum deles está baseado em teorias razoavelmente estáveis ou provas de correção, mais ou menos formais, de suas propriedades. Mas, tanto quanto a aspirina antes de 82, diminuem a nossa dor: fazem operações que nos dariam muita dor de cabeça pra fazer como nossas redes neuronais, sentidos e membros. E, por sinal, fazem coisas que não conseguiríamos de jeito nenhum.

Mesmo não sendo estas brastemps, os dispositivos construídos sobre as tecnologias da informação e a pouca ciência que os sustenta estão mudando o mundo numa velocidade muito grande. E, às vezes, na direção errada. Porque, se tecnologia é cultura, tecnologia tem que se inserir na cultura que ela muda, quando é introduzida, nas instituições e na sociedade. Sem falar nas pessoas. Qualquer combinação de software e hardware pode ser vista como um sistema de informação que pode ser dividido, literalmente, no sistema propriamente dito e a informação, suas propriedades e contexto que trata (incluindo aí regras de negócio, gente, problemas, oportunidades…).

O sistema, por sua vez, é uma composição das tecnologias usadas para sua construção e a capacidade de aplicação das mesmas em um dado ambiente de informação. O que normalmente significa que um grande especialista em sistemas financeiros, por exemplo, vai estar perdido se o problema à sua frente for desenvolver um sistema de e-mail. Depois de quase 30 anos fazendo software, acho que descobri as porcentagens que regem as divisões acima: um sistema de informação é 10% sistema e 90% informação. E o sistema é 10% tecnologia e 90% aplicação, o que faz com que a tecnologia, de fato, seja apenas 1% da solução.

Tudo isso é pra dizer que, se você quer mudar o mundo com tecnologia, principalmente da informação, deveria entender o mundo antes, já que 99% da solução de qualquer coisa está lá fora e não nos seus programinhas, por maiores e mais sofisticados que sejam. Para entender os princípios, problemas e oportunidades envolvidos no processo, uma primeira boa leitura é How To Change the World: Lessons for Entrepreneurs from Activists, de Adam Kahane, cujo .PDF está em www.gbn.org. O endereço é a sede do Global Business Network, do qual faz parte Peter Schwartz, um dos pioneiros do uso de cenários em planejamento, usado para entender países (como África do Sul e Colômbia), grandes e pequenas corporações e novos produtos.

[Adendo, 2007: quem disse que um link iria sobreviver SETE anos? o artigo de Kahane agora está aqui…]“

Ora, se esta transformação tecnológica ocorre nos instrumentos corriqueiros do artista, quanto mais não ocorrerá ou permitirá transpor a limitação física para um meio digital, o qual permitiria a total expressão dos sentimentos e assim realizar aquilo que os instrumentos atuais não o permitem?

Certamente que sim. Ai está a pintura digital, a qual tenho aplicado em muitos trabalhos, e que permite utilizar todos os instrumentos reais, paletas e todo o aparato existente de forma muito mais simples.

É certo também, que o fato de disponibilizar às pessoas esta instrumentação não as torna artistas, pois há a necessidade do dom, sem o qual qualquer instrumento não consegue produzir algo de valor, digo, prevalece a alma, transformam-se os instrumentos.

Entretanto, o uso da tecnologia permite que aqueles menos acostumados com os instrumentos de pintura, por exemplo, possam desfrutar de um momento artístico sem a necessidade de grandes conhecimentos, despertando-os e incentivando-os a continuidade dos estudos artísticos. De igual modo lhes trás uma sensação de bem-estar ao verem suas idéias expressas.

Esta arte digital agora pode ainda viajar grandes distâncias com facilidade, pois esta “pintura” pode ser enviada por email a qualquer parte do mundo em instantes, e ali ser impressas para que muitos possam apreciá-la na sua integridade.

Aliás, o transpor para a realidade algo produzido no computador é coisa que os alunos devem fazê-lo, para que possam experimentar a totalidade da sua experiência artística.

Telma Luize

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