Base: Gênesis 3.8-9
''Ao ouvirem a voz do Senhor Deus, que andava no jardim quando soprava o vento suave da tarde, o homem e a sua mulher se esconderam da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim. E o Senhor Deus chamou o homem e lhe perguntou: — Onde você está? '.
Introdução
Adão e Eva sabiam que, ao ouvirem a voz do Senhor ao entardecer, era hora de comunhão, intimidade e descanso.
- Era o encontro de um Pai com Seus filhos. Deus vinha na brisa da tarde, e não no calor do dia nem na escuridão da noite — pois é longânimo e cheio de misericórdia.
Mas naquele dia, ao pecarem, eles se esconderam.
- Perderam a inocência, vestiram-se com folhas e se ocultaram entre as árvores.
Segundo um teólogo, "essa não foi a interrogação de um comandante irado, mas o clamor angustiado de um Pai que havia perdido um filho".
E segundo um outro, Deus pergunta não para obter informação, mas para despertar consciência.
A pergunta “Onde você está?” ecoa em nós com ternura.
- Ela não vem como acusação, mas como convite à reconexão.
Como diz Habacuque, para o avivamento vir, é preciso reconhecer que estamos secos, feridos, afastados... e clamar:
"Faz de novo, Senhor!." (Habacuque 3.2)
Então precisamos primeiro ouvir Sua voz nos chamando para fora da dor, da vergonha e da solidão — e permitir que Ele nos encontre exatamente onde estamos.
OS ESCONDERIJOS DA ALMA
Vamos aprender com o filho pródigo em Lucas 15:12-20 sobre três esconderijos da alma que Deus deseja visitar com cura e libertação.
1. Esconderijo de Si Mesmo
Texto: Lucas 15.12-13
'''O mais moço deles disse ao pai: “Pai, quero que o senhor me dê a parte dos bens que me cabe.” E o pai repartiu os bens entre eles. — Passados não muitos dias, o filho mais moço, ajuntando tudo o que era seu, partiu para uma terra distante e lá desperdiçou todos os seus bens, vivendo de forma desenfreada.'.
O filho pródigo quis viver uma vida irreal, uma fantasia de prazeres fugindo da vida que tinha como família.
Por isso pediu sua herança antecipadamente para aproveitar uma vida que não era sua.
Queria experimentar prazeres que mascarassem sua insatisfação interior, sua dor.
Sem dúvida, foi divertido enquanto durou.
Feridas reveladas hoje:
- Vergonha de si mesmo e da própria história
- Esconder de si mesmo é ter vergonha de quem somos, de onde moramos, da família, do corpo e representar algo que não é verdadeiro.
- Muitas pessoas são risonhas, mas escondem seu nervosismo ou se aprontam com as melhores roupas para esconder sua tristeza interior.
- Vícios para calar o vazio (remédios, álcool, redes sociais)
- O vício é um grande sintoma de fugir de si mesmo com prazeres que o álcool, cigarro e drogas proporcionam momentaneamente para iludir o usuário com falsa alegria.
- Também os medicamentos como calmantes e soníferos podem ser usados para esconder uma dor interior.
- Barulho constante para evitar os próprios pensamentos
- O barulho se torna uma necessidade de quem precisa esconder de si mesmo.
- Sente necessidade constante de ouvir alguma coisa para não escutar os próprios pensamentos que perturbam a consciência.
- Incapacidade de encarar a si mesmo no espelho ou a solidão
- A pessoa que se esconde de si mesma não consegue se encarar no espelho ou fechar os olhos para refletir interiormente por que tem medo de olhar para dentro do buraco que há em seu íntimo.
Palavra de cura:
"Você não pode ser cheio do novo de Deus se ainda está cheio de falsas versões de si mesmo."
Deus não rejeita o que está quebrado — Ele restaura.
Ele quer curar sua identidade, curar sua autoestima, curar a forma como você se vê.
“Você não precisa mais se esconder de si mesmo. Jesus te vê… e te ama.”
2. Esconderijo dos Outros
Texto: Lucas 15.14-16
'' — Depois de ter consumido tudo, sobreveio àquele país uma grande fome, e ele começou a passar necessidade. Então foi pedir trabalho a um dos cidadãos daquela terra, e este o mandou para os seus campos a fim de cuidar dos porcos. Ali, ele desejava alimentar-se das alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhe dava nada. '.
Quando o filho pródigo descobriu que não tinha mais dinheiro, perdeu todos os amigos e namoradas, então foi trabalhar em um chiqueiro onde não havia ninguém senão os porcos.
Sua situação foi tão miserável que desejou comer o alimento dos porcos.
Quando tudo faltou, o filho se afastou de todos.
- Preferiu a solidão ao olhar de quem talvez o julgasse.
Feridas reveladas hoje:
- Isolamento emocional por medo ou decepções
- Esconder do outro é um sintoma de culpa e complexos.
- A pessoa prefere não ver ninguém a compartilhar seus problemas com as pessoas.
- Muitas vezes devido a decepções do passado, o isolamento se torna a alternativa mais fácil para fugir dos problemas.
- Relacionamentos superficiais, sem vulnerabilidade
- Relacionamentos superficiais também são esconderijos para não revelar-se ao próximo.
- Nas grandes cidades, quanto mais pessoas ao redor, maior a solidão.
- Entramos em ônibus e metrôs lotados sem ninguém pra conversar.
- Vizinhos dividem uma parede entre suas casas sem compartilhar um bom dia no corredor.
- Refúgio nas redes sociais: muitos contatos, nenhum confidente
- Existem muitas alternativas para ter muitos ‘amigos’ em inúmeras redes sociais, mas são pessoas que muitas vezes nem se conhece, vê pessoalmente ou divide seus problemas.
- Medo de se expor e de confiar
- Um esconderijo para não mostrar-se ao outro é muitas vezes demonstrado quando pessoas não têm coragem de falar sua opinião, concordam com tudo superficialmente e só estão presentes em momentos festivos.
Palavra de cura:
O Espírito Santo restaura a sua capacidade de confiar.
Ele quer tirar as barreiras do seu coração e devolver a leveza dos vínculos.
A cura começa na comunhão. Deus cura no secreto, mas nos fortalece em comunidade.
“Você não nasceu para viver sozinho. Há cura na comunhão.”
3. Esconderijo de Deus
Texto: Lucas 15.17-20
''Então, caindo em si, disse: “Quantos trabalhadores de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui estou morrendo de fome! Vou me arrumar, voltar para o meu pai e lhe dizer: ‘Pai, pequei contra Deus e diante do senhor; já não sou digno de ser chamado de seu filho; trate-me como um dos seus trabalhadores.’” E, arrumando-se, foi para o seu pai. — Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou e, compadecido dele, correndo, o abraçou e beijou. '
Quando caiu em si, o filho pródigo percebeu que o único lugar seguro era a casa do Pai.
Em seu pensamento ele não pensou em como melhorar as condições no chiqueiro.
- Ele não culpou seu pai, seu irmão, seus amigos, seu chefe, ou os porcos.
- Ele reconheceu sua miséria sem se concentrar nela, e ao invés disso se concentrou em seu pai.
E mesmo com medo e vergonha, decidiu voltar.
O filho pediu duas coisas:
- Primeiro, “Pai, dá-me”;
- Depois, “Pai, trata-me”.
- Somente o segundo pedido trouxe alegria.
Fugas espirituais comuns:
- Afastamento da oração, da Palavra e da igreja
- Fugir de Deus nem sempre é um ato consciente — às vezes é um afastamento silencioso.
- Paramos de orar, deixamos de ler a Palavra, e sem perceber, nos desconectamos da comunhão.
- Muitas vezes, dizemos que foi por causa de alguém que nos feriu, mas, no fundo, estamos tentando escapar do toque do Pai que insiste em nos chamar para mais perto.
- “O que encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia” (Provérbios 28.13).
- Fugir de Deus nem sempre é um ato consciente — às vezes é um afastamento silencioso.
- Racionalizações: "não preciso disso tudo"
- Criamos discursos internos para justificar nossa distância:
- “Deus sabe como sou”,
- “não é o templo, é o coração”, ou
- “vou voltar quando me sentir melhor”.
- Essas racionalizações nos afastam da presença real e restauradora de Deus, mesmo que mantenhamos uma aparência de fé.
- Criamos discursos internos para justificar nossa distância:
- Substituição da intimidade com Deus por ativismo religioso
- Muitos se escondem atrás do fazer.
- Pregam, servem, cantam — mas já não ouvem a voz de Deus em secreto.
- Substituímos o relacionamento com Deus por tarefas e ministérios, e acabamos esgotados, sem nutrir a alma.
- Isso também é uma fuga: estar ativo por fora e vazio por dentro.
- Muitos se escondem atrás do fazer.
Exemplos bíblicos de quem tentou se esconder de Deus:
- Adão e Eva se esconderam atrás das árvores
- Deus os encontra no esconderijo da vergonha e inicia ali o plano da redenção.
- O povo de Babel queria se esconder em uma torre (Gênesis 11.1-9)
- Deus confundiu sua linguagem, mas preservou o plano divino de espalhar vida sobre a terra.
- Jacó fugiu de seu irmão e teve um encontro com anjos (Gênesis 28.10-17),
- Em meio ao medo, Deus reafirma sua aliança e renova a identidade de Jacó.
- Moisés fugiu para o deserto e Deus lhe falou na sarça (Êxodo 2.11-22)
- Deus o transforma de fugitivo em libertador.
- Elias se escondeu numa caverna, mas ali o Senhor falou com ele: “que fazes aqui Elias?” (I Reis 19.9)
- Deus o tira da caverna da exaustão e o reenvia com nova direção.
- Jonas fugiu de barco, foi lançado ao mar e um peixe o engoliu e cuspiu na praia (Jonas 1.17; 2.2 e 10)
- Deus o conduz ao arrependimento e o usa para salvar uma cidade inteira.
- Saulo se escondeu atrás de cartas das autoridades para legitimar sua perseguição (Atos 9.1-9)
- Deus transforma o perseguidor em apóstolo da graça.
Não importa o motivo, Deus foi ao encontro de todos eles e deu um novo sentido para a vida.
Palavra de cura:
Deus não está te esperando com cobrança, mas com um abraço.
Deus não quer te expor. Ele quer te encontrar.
Ele deseja restaurar o altar da sua alma e FAZER DE NOVO.
“Ele quer te acolher e dar novo sentido à sua vida.”
Conclusão
ANALOGIA: O FILHO NA CAVERNA
- Imagine uma criança que se esconde após quebrar algo.
- O pai não chega gritando.
- Ele entra com cuidado, senta perto e diz: “Filho, eu sei que foi difícil… mas eu estou aqui.”
Assim é o nosso Deus. Ele entra na caverna da dor para chamar com amor:
“Onde você está?”
E como fez com Elias, Ele não fala no vento, no terremoto ou no fogo, mas no sussurro suave que restaura.
O Senhor sabe das nossas dores.
- Por isso preparou um esconderijo que cura:
- “Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará” (Salmo 91.1)
Portanto, há um esconderijo que cura: a presença de Deus.
Jesus está te convidando a entrar em Seu descanso.
Hoje, Ele quer restaurar o lugar da intimidade e curar os esconderijos da alma.
“Ele está dizendo: ‘Vou fazer de novo… e desta vez, será mais profundo, mais íntimo, mais transformador.’ E tudo começa em você.”
Convite / Oração Final
Você tem se escondido?
- Tem sentido vergonha da sua história, do seu corpo, da sua origem?
- Tem usado vícios, distrações ou barulho para calar o vazio da alma?
- Se isolou por medo de ser ferido de novo?
- Foi machucado por pessoas, líderes ou igrejas e decidiu se afastar?
- Tem trabalhado para Deus, mas sem sentar com Ele à mesa?
- Tem evitado o Espírito Santo por medo do que Ele possa tocar em você?
Se alguma dessas verdades ecoa no seu coração, saiba que:
- O que hoje é dor, pode se tornar testemunho.
- O esconderijo da alma pode ser transformado em altar de restauração.
- O renovo começa com um passo em direção ao Pai.
E hoje, Ele te pergunta com amor: “Filho, onde você está?”
Se a sua resposta for:
“Pai, estou cansado… estou com saudades…”
Então saiba: Ele já está correndo na sua direção com um abraço que cura, com uma palavra que liberta, com um amor que não desiste.
Oração:
“Senhor, eu reconheço que me escondi. Me escondi da minha dor, das pessoas, da Tua presença. Usei máscaras, distrações, vozes, até o ativismo — tudo para evitar o confronto contigo. Mas hoje, eu paro de correr. Eu escuto Tua voz me chamando: ‘Filho, onde você está?’ E eu digo: ‘Pai, aqui estou. Ferido, mas com saudades. Cura meu interior, liberta minha alma, restaura minha intimidade Contigo. Leva-me de volta ao Teu coração. Como era no começo… faz de novo, Senhor. E desta vez, eu não quero mais fugir. Eu quero permanecer. Ser restaurado. E viver contigo… de novo. Amém.”