28 de setembro de 2010

Pensando em Vocação a partir de William Wilberforce

Recebi este texto do Edmilson da Jocum Curitiba. Muito bom e reproduzo aqui. Boa leitura. Pr. Luis A. Luize

Escrever sobre Vocação e seus possíveis desdobramentos não é uma tarefa fácil e nem confortável porque definitivamente ela não dá palavra final sobre a sua vocação, não dá diagnóstico, pelo contrário, talvez suscite questões que você não teve até então. De qualquer forma me perdoe ... é parte da minha vocação relacionada a construção de conhecimento relacional e transformacional – “PROVOCAR” ..., mas por favor, conflite-se e divirta-se. Em alguns momentos talvez você vai usar a expressão: Eureca!!! Era isso, era essa palavra que eu precisava para encaixar no meu quebra-cabeça de mais de 1.000 peças chamado Destino. Em contrapartida, você terá surtos de ódio da minha pessoa, talvez deseje me matar na próxima vez em que me encontrar com expressões do tipo como argumento: “Por que ela tinha que acender essa luz nas minhas trevas?” ... risos. Tudo bem, você vai considerar melhor e desistir do desejo de me matar; tenho pouco tempo de casada para você se dar a um ato tão hediondo.  A introdução foi muito pessoal, mas minha intenção é ser o mais consistente que puder com você. Afinal, quanto mais conhecermos a verdade, mais livres seremos para viver a verdade sobre nossa existência. Aliás, para falar de vocação, nós não vamos evocar os testes feitos ou no final do 1º grau (essa era a nomenclatura da minha época) ou no final do 2º grau para descobrir qual seria a “facul” (essa é a nomenclatura atual) certa. Vou precisar que você me acompanhe numa viajem meio filosófica, mas necessária. Todos nós, por mais centrados que sejamos, por mais funcionais e equilibradas que tenham sido nossas famílias, em algum momento da vida lidamos com questões do tipo: “Quem sou eu?” e “Para que existo?”, alguns reelaboram essa questão de tal maneira que ela fica assim: “Para que de fato eu existo?”, porque essas pessoas descobrem que podem fazer muitas coisas, poderiam até mesmo se dar bem em muitos cursos acadêmicos superiores, tem habilidades diversas, mas procuram algo tipo o carro-chefe que move sua existência. Portanto, não temos como mexer no nicho Vocação sem associá-lo a questão da identidade do indivíduo. Ah! Hellen, você está querendo que eu me livre do resultado do teste vocacional que fiz na minha escola amada e querida? Isso, mesmo, você acertou! Vamos falar de vocação considerando quem você É, sua identidade. William Wilberforce pode nos ajudar bastante com a questão dos conflitos que envolvem descobrir, assumir e executar nossa vocação de fato. Talvez muitos não tenham esse querido em seu repertório bibliográfico, mas seria interessante considerá-lo. William Wilberforce nasceu em 24 de Agosto de 1759 em Hull, uma cidade portuária da Inglaterra. Como ele perdeu o pai muito cedo, sua mãe o enviou para ser criado por tios, onde esteve debaixo de forte influência cristã, como George Whitefield, um reformador de peso que trabalhou em prol de despertar a fé cristã em decadência na Inglaterra e também por John Newton um ex-traficante de escravos que se converteu ao Evangelho de Cristo, tornando-se um relevante pregador da Verdade, cujo a formação teve grande influência da Teologia de Lutero e dos reformadores. Este último se tornou uma espécie de herói, de ícone, de referência para Wilberforce. A mãe de William preocupada em ter o filho metido com “evangeliquismo” ... risos, isso ainda existe hoje; trouxe o filho de volta e o enviou para um internato. Depois disso William deu continuidade aos seus estudos na Universidade de Cambridge, para sua mãe o convívio com a ciência iria destruir qualquer subsídio de fé cristã que tenha sido plantada em sua mente e seu coração. Pobre mãe, os estudos foram profundamente úteis para aclarar as idéias, mas não destruíram sua fé completamente. Ele se tornou um parlamentar aos 21 anos de idade, e baixo a influência daqueles seus mentores lá da infância e início de adolescência se inclinou à luta contra a escravidão. Já engajado na carreira política, William viajou ao sul da França onde teve de fato a sua experiência pessoal de conversão, os historiadores datam sua conversão em 1784. Você deve estar se perguntando: “Onde entra essa parada de vocação em toda essa história?”. Gente, pois aqui é o ponto. Deixe-me contar a continuação disso tudo, pois o que aconteceu com o mano William, acontece com muitos de nós. Quando ele voltou para a Inglaterra procurou seu velho amigo John Newton apresentando uma crise vocacional, agora que tinha se convertido de fato, queria ser um pastor, um pregador da Palavra da Verdade, queria servir com sua voz, e tinha habilidades, talentos e dons para isso, era um estudioso, um excelente orador, enfim, tinha tudo para descobrir quem era de fato em Cristo e o que podia fazer para o Reino. Tinha que deixar tudo e se dedicar exclusivamente a obra de Deus. Normalmente, fazemos essa cisão quando convertemos, tem coisas que fazemos porque temos talento e tem coisas que fazemos porque Deus nos chamou, ... “é complicado lidar com essa duplicidade que a gente alimenta”. Por favor, confessa aí para eu não pensar que eu fui a única. Bom, antes de voltarmos ao William, vamos considerar algumas coisas. A Identidade contém a Essência do Ser, você eu temos um tipo de dignidade que por si só nos valoriza mesmo que passemos a vida toda sendo negligenciados por outros – Ser imagem e Semelhança de Quem nos criou nos assegura senso de significado enquanto ser. E existir com sentido é tudo que muitos passam a vida toda buscando em religiões ou em terapias. Então, Identidade mexe com a questão da nossa origem. William Wilberforce descobriu sua matriz originária ao se converter, e isso foi legítimo. A gente também pode concluir então que a Identidade carrega a marca da existência. Voltando ao William, ele como eu e você queria deixar tudo para servir a Deus, e entendeu que seria mais útil como pregador do que como político. O reverendo anglicano John Newton teve muitos e muitos diálogos do tipo “cabeça” com o jovem parlamentar, até que este entendeu que a causa da abolição da escravatura na Inglaterra que ele já tinha abraçado teria muito mais abrangência através de sua ação como político do que como pregador, ele acreditou que Deus o fez para esse propósito. E de fato, Wilberforce após entender seu caminho vocacional e do quase desvio do mesmo capturou a mensagem da vocação, que segundo Rubem Alves é como uma voz interior que nos aponta um caminho, e é melhor segui-lo. Enquanto Identidade carrega a marca da existência, a vocação carrega a marca do nosso destino. William capturou a idéia que Matinho Lutero desenvolveu sobre vocação enquanto caminhava com Deus nas suas próprias questões e crises vocacionais. Segundo Martinho Lutero, vocação não é tanto uma questão do que nós fazemos, mas sim uma questão do que Deus faz em nós e por nosso intermédio. Deus decidiu agir por intermédio dos seres humanos, que, com suas diferentes habilidades e de acordo com seus diferentes talentos, servem uns aos outros dentro das relações. Poderia ainda arriscar minha definição de vocação que foi ratificada na minha leitura do livro “Venha o teu Reino”, livro organizado pelo Jim Stier, fundador de JOCUM Brasil, no capítulo escrito por         . Uma vez que a Identidade determina a essência do ser, a vocação é a ação do ser, uma vez que pode ser entendida como a equação de dons, talentos, habilidades, potencialidades, competências e personalidade do ser, que dotado de tudo isso pode dentro de seus relacionamentos construir uma resposta real a uma necessidade real que vai servir além de si e além de seu próprio tempo a outros. Complicou ou ajudou? 

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Bom, talvez o final da história do mano William, nos ajude a dar aquela amarradinha final (não no diabo gente, nas idéias, por favor). Nosso mano conseguiu no cenário da política exercer a sua vocação, não era cumprir uma tarefa, um mandato e se dar bem, elaborar leis, planejar uma plataforma política, angariar votos, assinar dúzias e dúzias de papel, era além da tarefa, tinha a ver com a missão de vida do cara. Sendo pastor ele não iria poder elaborar uma Lei que iria por fim culminar na abolição da escravatura, o máximo que ele conseguiria como pastor seria exercer influência na formação da mentalidade de jovens que se engajariam na política e ..., ah, você já sabe o que iria acontecer, ele faria com outros jovens o que John Newton fez com ele e o processo da Abolição se estenderia talvez por mais umas boas décadas. Claro, o caminho não foi fácil, descobrir sua vocação e seguir seu próprio destino NUNCA é tarefa fácil, mas posso te afirmar uma coisa, todo esse processo constrói um tipo de estrutura interna, que faz você continuar insistindo mesmo quando outros vão desistindo no caminho, porque você tem aquela convicção interior de aquilo é seu destino, seu caminho, ou como queira chamar – missão de vida. William Wilberforce fez o seu primeiro discurso no Parlamento contra o mercado escravo no dia 12 de Maio de 1789 e apresentou a sua primeira declaração para a abolição em 1791, a qual foi derrotada por 163 votos contra 88. Continuou a sua campanha dentro do Parlamento e, juntamente com um grupo de amigos, ajudou a Sociedade Anti-Escravatura. Em 1792 conseguiu ver a sua declaração para a abolição gradual aprovada, mas sem data exata para entrar em vigor. Tentou novamente em 1804, e em 1805 fez de tudo para fazer passar uma declaração na Casa dos Comuns. Contudo não foi bem sucedido. Uma tentativa final, em 1807, saiu vitoriosa e saiu uma lei no dia 25 de Março de 1807 para abolir a escravatura. Wilberforce foi aplaudido pelos seus camaradas no Parlamento, mesmo os que eram contra a sua luta, por conta da sua perseverança.

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 Imaginem se ele resolvesse se desviar nobremente de sua vocação se tornando pastor? Por favor, nada pessoal contra a vocação pastoral, ela é tão louvável quanto a vocação política, mas se não for a sua seria um desastre segui-la mesmo em nome de Deus, e um desastre para ovelhas que deveriam ser cidadãos que votariam em você, mas não teriam que ir pro gabinete pastoral receber seus conselhos. Fiquei pensando no que seria das crianças, dos louquinhos e dos velhinhos se eu tivesse caminhado nos trilhos dos sonhos de menina de me tornar pediatra, psiquiatra ou geriatra. Meu Deus, melhor nem pensar. Tem muito mais coisas que poderíamos conversar sobre vocação, mas se com a ajuda do mano William tiver conseguido tirar de sua cabecinha gospel a idéia de que vocação é a escolha da profissão certa, ou algo do tipo “profissionalização do dom”, vou ficar feliz e imagino que a nuvem de testemunhas segundo o escritor de Hebreus, da qual devem fazer parte agora o mano William e o reverendo John Newton também. Para mais detalhes veja o filme “Amazing Grace – Uma Jornada para a Liberdade”, você e eu temos o compromisso de conhecer a nossa Herança Protestante, pois sem isso, desculpe, não há condições de sermos relevantes em nosso próprio tempo sem considerar o exemplo da obediência de outros, e isso não significa responder exatamente como eles responderam, mas considerar os princípios, valores e verdades que lideraram suas vidas e suas decisões. Um povo que não conhece a sua História está fadado a repetir os mesmos erros do passado, e isso afeta profundamente o processo de desenvolvimento da humanidade e das futuras gerações. Algo sobre vocação que não poderia deixar citar diante dos exemplos desses manos: Vocação não é aquilo que faço para me realizar, mas sim para promover e realizar outros, a realização atrás da qual passamos a vida toda correndo para alcançar, ou desfrutar ... sei lá o verbo mais adequado para utilizar aqui; é justamente fruto de cumprir meu destino enquanto sirvo outros. Sem serviço ao próximo o resultado final da equação que envolve vocação e indivíduo não termina igual a realização. Projetos vocacionais mesmo em nome de Deus que essencialmente não servem ao outro pode ser avaliado como promoção pessoal e não algo que glorifique a Deus e some num universo de muitas inteligências. Termino com uma citação de outro mano rico em suas contribuições, Francis Shaeffer: É algo para refletirmos não só na questão de nossa vocação e do lugar dela no mundo mas na qualidade do Cristianismo baseado no qual exercemos nossas vocações: Em um debate Schaeffer fez 2 perguntas as quais precisamos responder com nossa vida e com a obediência à nossa vocação: Você acha que nossos contemporâneos nos levarão à sério se não praticarmos a verdade? Em uma era em que não se acredita que a verdade exista, você realmente acredita que teremos credibilidade se não praticarmos a verdade? E eu acrescento: Mesmo que seja no âmbito da nossa vocação? Galera do Bem, façamos de nossa vida, cumpramos nossa vocação de maneira que no final não se tenha a obrigação de muitos atos, mas se expresse muita obediência, pois até mesmo nas anônimas escolhas e decisões Deus pode dar desdobramento ao caminho de muitas pessoas além de nós. Valeu por me lerem, espero que as idéias tenham provocado muitas questões, e que a vida de Wilberforce te inspire a responder a Deus com sua própria obediência, aquela que só você poderia construir caminhando com Ele. Hellen Guia

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Com a revisão do meu maridão Celso Braga

One comment on “Pensando em Vocação a partir de William Wilberforce”

  1. Prezado Pr.Luis Antonio Luize
    Meu nome é Celso, sou esposo da Hellen, autora do artigo Pensando em Vocação a partir de William Wilberforce que o senhor publicou.
    Ficamos muito felizes que isso tenha acontecido. Nosso intuito é que mais pessoas possam ler esse artigo e outros, que Hellen escreve com tanta graça de Deus, para serem abençoados. Especialmente quando o assunto é Vocação e Identidade - assunto que ela ama ministrar além de outros.

    Estamos a sua disposição, caso o senhor queira saber mais sobre nós e nosso ministério - apenas antecipando, somos missionários de Jocum Rio de Janeiro e estamos "de partida para viver entre nossos amados de olhos puxados".

    Pelo Rei e pelo Reino

    Celso e Hellen Braga
    [email protected]

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